18 junho 2008

Travessia dos Picos de Europa...e as subidas nunca mais serão iguais.



Prólogo:

Com uma semana de férias, rumámos em direcção às Astúrias em busca de novas sensações, outros ritmos e espaços utilizando a bicicleta como uma extensão de nós mesmos.
Há muito tempo que a necessidade de liberdade e os grandes horizontes nos estão colados à pele como uma tatuagem.
A Cordilheira Cantábrica fala por si. O nome, Picos de Europa, diz tudo. O problema aqui não é as montanhas serem altas, é serem muitas...Torna-se vital ajustar a escala da visão, os cenários imponentes impressionam pela sua dimensão e vastidão.


Dia 1 – Subida aos Lagos de Covadonga (west side, 45 kms – 1400 mts acumulado)






Com um milhar de quilómetros acumulados de carro no dia anterior, o melhor mesmo era ter uma voltinha curta para um dia que se apresentava cinzento. A distância planeada era relativamente curta, aproximadamente 27 kms e por isso, o “trio maravilha” - 2 mulheres e um homem - subestimou este valor levando pouca água e alimento.
A primeira grande ascensão começou em direcção aos lagos de Covadonga, mas a instabilidade do tempo e a constante cortina de neblina, apenas permitia breves visões de um manto azul pincelando a paisagem. Antes da visita oficial aos lagos Enol e Ercina, ainda houve tempo para conhecer o local que chega a receber 10.000 visitantes por dia, o Santuário de Covandonga. Felizmente não tivemos essa visão, o que vi, estando eu à porta do Albergue, foi dezenas de autocarros a passarem

Dia 2 – Subida aos Lagos de Covadonga (east side, 50 kms – 1600 mts acumulado)






Ainda em Portugal e a estudar o percurso na carta militar e no google earth, fiz coincidir os 12 kms iniciais até aos lagos (onde derivava) com a etapa de hoje. Agora em Espanha e depois de empenar naquela subida, pensei na opção de atacar Enol e Ercina tomando outro sentido em prol da minha saúde física.
Pelo vale, entre o rio e as falésias, fomos pedalando e questionando que zona tão plana não era típica dos Picos de Europa, faltava ali um “je ne sais quoi”.
Chegou a resposta, aos 30 kms já acumulávamos 1500 metros e um sem número de “razias” às vacas que teimavam em não querer partilhar o espaço comum de passagem.
Mesmo com os percursos bem sinalizados, um GPS e um mapa da região, é muito fácil um caminho rolante terminar e confluir com uma rota pedestre que pela quantidade de pedras, lama e água, se tornam perigosos. A fraca visibilidade criada pelas condições atmosféricas adversas aquela altitude não tornam o BTT menos maravilhoso, tornam-no limitativo porque queremos tirar fotografias e nada se vê á nossa volta.

Dia 3 – Relaxar em Posada de Valdeon (23 kms – 639 mts acumulado)






A cidade de Cangas de Onis ficou para trás, os Picos não. Neste lugar colado ao rio Cares e ao maciço central, o tempo chuvoso continuava.
Rezam as línguas locais que há um mês que a pluviosidade é uma constante, desta forma, os caminhos ficam alagados, penosos e algo escorregadios. Parecem um cocktail molotof.
Sempre gostei de adrenalina, de descer rápido e de travar pouco (outra mistura explosiva). Gostei da queda em terreno macio, das cambalhotas e de aterrar em pé, o pior foi ter que ligar o polegar.
Se as previsões acertarem para os próximos dias teremos algum sol que permitirá a travessia do maciço central e a passagem pela famosa garganta do Rio Cares.

Dia 4 – Nos trilhos das vacas (33 kms – 1460 mts acumulado)






Alteração de planos. A imensa chuva que cai às 06h da manhã fez-nos ficar um pouco mais no quarto. O pormenor de trazermos uma panóplia de várias rotas em BTT permite-nos adaptar e escolher o que iremos fazer a cada dia.
Os single-tracks a serpentear toda a montanha e a acabar em linhas de água, foram o prato forte do dia de hoje. Para mim, até à data, o percurso mais bonito.
Os meteorologistas acertaram que à tarde não iria cair água do céu. A contar com isso, acreditámos que também não falhariam para o dia seguinte. Estavam lançados os dados para o verdadeiro desafio...

Dia 5 – Travessia do Maciço Central (76 kms – 2740 mts acumulado)





Paisagisticamente e fisicamente falando, não tenho nada a apontar. Está tudo lá. Contrastes brutais, desfiladeiros rasgados e picos abruptos a vários palmos do chão e a uma mão-travessa do céu.
A mítica rota da garganta do rio Cares e também a mais famosa do Parque Nacional dos Picos de Europa, com 10 kms de comprimento e que demora cerca de 5 h a pé, são um dos ingredientes para hoje.
O segredo está em percorre-la bem cedo para evitar cruzamentos com caminheiros a pé que pela estreita largura e altitude a que se encontra, apresenta um risco elevado para o uso da bicicleta, daí a sua proibição.
Este trajecto consome-nos 4h divididas entre o andar a pé, de bicicleta e tirar fotografias.
Após a viagem em funicular para visitar a peculiar aldeia que empresta o nome ao famoso Naranjo de Bulnes, foram longas horas sempre a subir, lentamente...muito lentamente.

Dia 6 – Andar de teleférico ( 40 kms – 1070 mts acumulado)





















Com a ajuda do teleférico em Fuente Dé, toca-se rapidamente os 2000 metros, poupa-se 800 de desnível e ainda se ganha muitas horas para pedalar. Aqui, também nada se perde. As nossas forças foram canalizadas para calcorrear a pé um caminho de montanha ladeado por manchas de neve até atingirmos os 2050 metros de altitude.
Já na bicicleta, tirámos o azimute a descer para o vale. Agora, o importante não é ir depressa, importa é não abrandar.
O maciço oriental surpreende pela vegetação luxuriante e afloramentos rochosos calcários que nos fazem duvidar da realidade que minutos antes presenciámos.

Avisos à navegação:
Esta é uma história real, não a tente fazer em casa.
O “consumo” de qualquer um dos três maciços provoca falta de ar

02 junho 2008

Travessia Cabo da Roca – Alcains 23 a 25 MAIO 08 - 360 kms





















“Quando tudo o resto falha, leia as instruções”


Desta vez, olhando os estragos de material, a motivação para esta travessia parece ser:
“Vou trocar de componentes, mas antes, vou andar à chuva e na lama até o gastar.”
Dos 7 gurus que compunham o grupo, uns conseguiram trocar o conjunto de pastilhas de travão enquanto 2 apertaram ferro contra ferro durante muito tempo.
A Filomena sem drop-out e com o desviador partido, o Pepe sem prato do meio, o Bolacha sem caixa de direcção e eu sem bateria no ciclómetro, acreditávamos no trunfo que é a capacidade de improvisação do homem português. Com a margarina a servir de lubrificação e “all our problems seems so far away”.
A seguir à tempestade, vem Alcains. O colossal manjar em casa do Did é a nota dominante deste percurso que supera o guia michelin. 5*

Travessia Lisboa-Évora 1 a 3 MAIO 08






















"Já não sei andar só pelos caminhos, porque já não posso andar só.”



E agora?!!! Qual seria o motivo ou desculpa para ir de bicicleta e não de comboio até à maior cidade alentejana?
Simples. Visitar o fluviário de Mora, experimentar uma tenda ultra-ligth, pedalar na Ecopista Mora-Évora e conhecer os monumentos megalíticos da região.
As viagens na Primavera surpreendem sempre pelo emaranhado de cores e cheiros que o Alentejo nos dá.
Ao 3º dia quando seguíamos o track da maratona de Évora, já eu e a Filomena estávamos mega satisfeitos. Para trás tinham ficado, 2 centenas de quilómetros, manhãs inteiras sem ver ninguém e um calor abrasador.

Travessia Tróia-Albufeira – 17FEV08





“Desta terra sou feito
Fragas são os meus ossos,
Húmus a minha carne.
Tenho rugas na alma
E correm-me nas veias
Aguas maravilhosas”
Miguel Torga

Agora que finalmente está a acabar o curso, pouco tempo sobra para escrever sobre as viagens em bicicleta que continuam sobre rodas.
Trabalhar?! Às vezes...Pedalar ?! Sempre...
Assim, a conta gotas, escrevo sobre as travessias feitas - alguns meses atrás - na nossa terra.
Naquela madrugada, nem o sol nascia nem o frio desaparecia. Após a travessia do barco para Tróia, surge a primeira fotografia de grupo.
Existe sempre um propósito nas travessias. Esta tinha como objectivo irmos ao encontro do pessoal (que se ia juntar no 7 P.IP.- Passeio Informal do ProjectoBTT) ao 3º dia em Albufeira. Era a loucura, íamos pedalar durante 2 dias “só” para fazer 25 kms que foram reduzidos para 15 após muita chuva e temporal.
Foram longas e boas horas em cima da bicicleta até Odemira onde bem perto da serra do Cercal foi necessário encurtar o track original porque os atrelados, carregados com bagagem dupla, mostravam a sua inércia, opondo-se ao movimento uniforme.
Os “bombeiros salvaram-nos” não só com o acolhimento nas suas belas instalações, mas também com a afixação de cartazes onde se exigia o silêncio nocturno porque estava naquele local um grupo de ciclistas a repousar.
A caminho do Sul e com o terreno já mais acidentado, tornou-se necessário recorrer à vitamina C das laranjas onde nem era preciso pesar. Era pegar, comer e andar.