10 setembro 2009

TRANS_JORDAN em PETRA

"Quanto mais longe vais no deserto mais te aproximas de Deus"

31,01Set – Wadi Musa - Wadi Rum – Aqaba

Desde o centro de visitantes de Petra até ao ponto com o mesmo nome em Wadi-Rum passaram 108 kms. O “vazio” do deserto tem sempre algo para oferecer e é muito mais que areia. À minha frente emergem cumes abruptos que preenchem um cenário inabitado há muitos milhares de anos. E o que dizer da junção de cebolas, tomates, especiarias e malaguetas aquecidas em lume de carqueja e uma refeição cozinhada num forno enterrado no chão e coberto de areia?!!! Até as cebolas inteiras eram deliciosas... À hora da refeição, os sentidos eram o meu guia. Apesar de ser confrontado com sabores para os quais não encontro o nome correspondente, não nego o privilégio que tenho ao provar pratos diferentes recheados de condimentos onde tudo tem um cheiro, cor e forma distintos. Os países são feitos de pessoas e são elas que transformam estas experiências em momentos gratificantes que fazem os dias saberem a vida. Por isso, estas viagens em bicicleta não me incham as pernas, incham-me o cérebro porque volto sempre cheio de ideias.Acabo como comecei. Só eu sei porque não vou para casa











28, 29,30 Ago Dana Village-Wadi-Musa (PETRA)
Já era tarde quando nos despedimos do simpático hotel no vale da reserva de Dana. Seguindo Sul ao longo do sistema montanhoso que se extende até às terras baixas de Wadi Araba, os contrastes e trilhos panorâmicos com horizontes longínquos foram uma constante. Em cada dia de pedalada na estrada, em qualquer altura e em qualquer lugar, acostumei-me a ser surpreendido. Paisagens de ouro estão à minha espera em todos os locais. Petra é o tesouro. Aqui as palavras são sempre poucas e pequenas para transmitirem tudo o que avistamos e sentimos. Petra é assim, uma vírgula no tempo. É preciso ver para acreditar. 72 horas não são suficientes para absorver e consolidar a perfeição de colossais monumentos porque esta maravilha do mundo é composta por mais de 800, todos escavados na rocha. Sei que a memória sofrerá com a erosão do passar dos anos e apagará alguns destes momentos. Não interessa, o presente é agora e há que vivê-lo. Intensamente. Little Petra reserva algumas surpresas. Não há turistas. Sento-me, abro a mochila e fico para almoçar na melhor esplanada que tive até hoje. O patim de um monumento Nabateu. De volta à turística Wadi Musa, aguardo o pôr-do-sol. No Ramadão significa que as ruas e o comércio voltam a ter um movimento fora do normal, com uma excepção, podemos comer. Na vila também estavam os 2 beduínos que exploravam o bar (caverna) junto do Monastery, o monumento situado no ponto mais alto de Petra. Ao jantar acabei por me sentar como convidado, conversar com 2 sábios, e sair como amigo. Tenho mais quem uma maravilha em Petra. Tenho um local divino, indiferente ao passar do tempo e onde posso regressar sempre que quiser. E não é preciso sonhar, basta dizer Incha-Lá (Se Deus quiser)

TRANS_JORDAN em BTT

" Só eu sei porque não vou para casa"








27Ago Al-Karak-Dana Village
Ao adicionar quase 4lt de água com os restantes bens essenciais da mochila, esta tornou-se uma âncora e um desconforto extra para os 30 kms de subida contínua que nos aproximam de Táfila. Dentro das cidades, o caos urbanístico e automobilístico é inenarrável. Aqui apenas compro algo que possa comer. Algures... O Ramadão e a cultura deste povo levam a que qualquer tomada de alimentos seja feita longe dos olhares dos transeuntes. Não é fácil, parece que estão por todo o lado. No final de um dia de quase 100 kms, o cansaço acumulado não me dá a mesma disposição para ouvir tantas buzinadelas, fugir dos cães e dos miúdos que muitas vezes mandam pedras (à Angel Fish).

26Ago Dead Sea – Al-Karak
Alguns meses atrás quando o Rakan me alugou as bikes e em conjunto traçámos a rota desta travessia, ele perguntou-me se eu tinha a certeza que queria subir desde o mar morto em pleno Agosto?!! Hoje percebi porquê. Foi agonizante. Menosprezamos a montanha e carregados com "litradas" de água e em bicicletas pesadas e desajustadas, nunca vinte e poucos quilómetros me custaram tanto a fazer. Ia tão lento e as moscas eram tantas que até pela boca me entravam. Nisto e com o suor incessante a escorrer face abaixo, obrigavam-me a parar porque em determinadas alturas não via nem conseguia respirar. A imensidão de cumes áridos e secos eram como uma cortina que limitava o perscrutar do horizonte. O tempo passava, novos cenários não surgiam, no entanto, a quietude e solidão do lugar continuavam lá, comigo. Muito devagar.



25Ago Madaba- Dead Sea Há 5 dias que ando em “modo terrestre” pela Palestina e Amman. Durante este tempo, proporcionalmente gastei mais em deslocamentos do que em alojamentos e por isso, a escolha da bicicleta para percorrer os próximos 10 dias todo o sul da Jordania com a Angel Fish, foi uma grande ideia. O efeito provocado no povo jordano aquando da passagem da bicicleta é fascinante. Muitos risos, adeus, sinais de luzes, buzinadelas e diversas ofertas de ajuda para apanharmos boleia. Tudo vale para demonstrar o apreço e respeito por tão nobre veículo de transporte movido a esforço e essencialmente muita paixão. As montanhas da reserva natural de Mukair revestidas a tons de castanho são áridas por natureza. Elas são rasgadas por vários vales e por uma fenda geológica que se estende até ao norte de África. Os seus canyons e trilhos permitem, por um lado, a observação da vida selvagem, e por outro o cannyoning. Eu aproveito o manto negro do alcatrão para a atravessar e descer até ao ponto mais baixo da terra. O mar morto (400 metros abaixo nível do mar). Nadar neste misterioso lago salgado e adormecer numa cama de rede dos chalets existentes nas suas margens, é apreciar uma experiência única. Por muito que me esforce, torna-se quase impossível afundar-me numa água cuja percentagem de sal atinge os 350g por litro. As suas propriedades curativas combinadas com a temperatura, convidam a ficar. O que parece difícil encontrar por aqui é mesmo água fria para se conseguir tomar banho.

Jordânia e Israel com pedais e mochila

My dream trip is only two wheels away

Eis que chegaram as férias da missão. Ao invés de ir para Portugal, escolhi viajar para outro país do Médio-Oriente. Quero ter o prazer em ver uma das 7 maravilhas do Mundo; Quero estar presente no dia-a-dia de outro povo para ver e aprender; Quero ver e sentir-me impressionado.
Preciso procurar o que é novo, desafiar o comum e o vulgar partindo ao encontro de novos locais que me realizem os sonhos e me transmitam o sentido da vida.
Tudo o que quero é uma vida simples, num mundo maravilhoso, percorrido em bicicleta.
Este meu desejo de errancia, não o encontrei nem me cruzei com alguém que mo transmitisse ou influenciasse. Senti-o na adolescência quando descobria os livros dos Cinco e de Júlio Verne.Para Verne, Tudo o que uma pessoa pode imaginar, outras podem realizar. Sem as viagens, os meus sonhos nunca se tornariam reais. Não me basta ler e pesquisar, preciso pisar os locais para os verdadeiramente conhecer e Petra está entre as 1001 coisas que desejo ver, antes de morrer


23 agosto 2009

Jerusalém 20Ago09

Recuar 3000 anos na história
23Ago09

Agora deste lado comecou o Ramadao. É só somar pequenas aventuras.. As pessoas mudam os lugares. A noite no mesmo hotel em Amman deixa de ser apenas passageiro, superficial; deixa de ser apenas mais um momento para, ao encontrar alguém com a Nesma, nos sentirmos em casa.Até agora, proporcionalmente gastava mais em deslocamentos do que em alojamentos e por isso a escolha da bicicleta para percorrer nos próximos 10dias todo o sul da Jordania, foi uma grande ideia.


Jerusalém-Amman 22Ago09

É Shabbatt, por estes lados parece que o mundo deixa de girar. Preciso voltar á odisseia de atravessar a fronteira e hoje, nao é o melhor dia. A janela de tempo para apanhar o sherub fecha ás 09h30. O caos, a probabilidade se ser enganado a qualquer momento, o rebulico da downtown, reinam na Jordania e é para lá que quero ir ?! Irracional??? Talvez, mas até entao, nunca ouvi tantas vezes a "Wellcome" como sucedeu em Amman. Verdade seja dita que nesta cidade, ou nos deslocamos de taxi e pagamos caro, ou entao, se recorrermos aos megafantásticos minibus e taxis partilhados, perguntar, perguntar, perguntar, é mesmo a melhor solucao.




Cercada por muralhas e apinhada de turistas, na cidade antiga, nada falta. As ruas sao um turbilhao de aromas e estimulos que hipnotizam e prendem os sentidos.
O calor impoe as suas regras. Para o contrariar, em bancadas ou em "bandejas ambulantes", aparecem os sumos gelados a fazerem lembrar o arco-iris.
Perco-me várias vezes. Sem, e com guia. Vagarosamente e aleatoriamente vou sempre ao encontro de algo supremo, independentemente da religiao a que pretence.
Fora de portas, Jerusalém, é um caos automobilistico. O melhor é mesmo para ver a pé, nem que sejam necessários 40 minutos para chegar á Youth hostel.

Israel_Palestina 19Ago09

Nas pegadas das 3 religiões
Tiberias-Nazaré

Neste territorio ocupado, uma história nao basta para relatar uma realidade partilhada. Diversas religioes nasceram por toda esta zona santa e cada uma seguiu um Ser Superior diferente. Após algum estudo e estágio na lingua árabe, surge aqui um novo dialecto, o hebraico. A insitencia, a atencao e muitas vezes um papel com o nome do local a visitar, revelava-se mais eficaz que falar na lingua de Shakespeare. A familiaridade dos nomes desta regiao vem desde tenra idade, ouvem-se por todos os locais católicos e estao escritos á milhares de anos na Biblia. Fazer a "circum-navegacao" em bicicleta do mar da Galileia a -210 metros, foi um privilégio. Quando pego numa bicicleta sou como uma crianca com uma bola. Os meus olhos brilham. Tive a felicidade de falar de fado com o nazarenho Sami nas margens do lago em Tabgna. Ele transmitiu-me tudo aquilo que o posto de turismo de Tibérias nao conseguiu. Após um sprint de regresso a tórridas temperaturas, entrego a bike e, mesmo com pouco tempo, sigo para Nazaré, a maior cidade árabe de Israel com 60% da populacao muculmana. Levo marcado no mapa todos os pontos religiosos incluindo a melhor casa de falafel da Galileia. Sao 18h00. Embuido do silencio e da paz sentida na Basilica da Anunciacao, nao dou pelo tempo a passar e perco a oportunidade de visitor todo o complexo. Logo ali ao lado, no mercado, ao longo de fachadas de casas ancestrais com lojas a cada metro de distancia, percorro as ruas labirinticas que, sem comercio, nao tem vida.



Beirute_Jordania

Amman 18Ago09

O transfere para a fronteira feito em vários mini-bus e táxis partilhados, foi uma rica experiência. Atolado é uma força de expressão levemente utilizada para descrever o cenário no interior dos autocarros.
O controlo de passageiros na fronteira segue um rigoroso ritual de procedimentos que vão desde o interrogatório, até a várias passagens em check-points.
Desde Amman ate á Damascus gate em Jerusalém passaram 5h debaixo de um sol abrasador. Para amenizar este ar seco que se sente, é comum encontrar borrifadores gigantes em forma de hélice que salpicam água em todas as direcções.
Eu já sabia que à entrada de locais públicos existiam detectores de metais. Uma coisa é ler, a outra é sentir o incómodo de retirar tudo o que trazemos e percebermos que este gesto faz parte da rotina deste povo.
Impressionou-me também ver tantos militares e civis – adolescentes – a transportarem uma metralhadora.
Mal comparado, esta arma é como o IPod nos dias de hoje. Vai para todo o lado.


Cada país tem uma história para contar. Em apenas 2 dias vivi essa realidade. A primeira foi no Líbano e começou no edifício onde só a partir do 2 andar é que estavam os alojamentos.Tudo o resto eram serviços variados.
Pouco ou nada dormi nessa noite porque a agitada vida nocturna ouvia-se nas ruas e nos telhados dos grandes hotéis.
Em Beirute, os predios destruídos em sintonia com veículos do século passado são rapidamente ofuscados pelo luxo e pela grandeza de hotéis e carros que mesmo sem extras, a maioria, não conhecia ou só os vi em revistas.Não é por acaso que outrora este país se chamou Paris do Oriente.
Já em Amman, no edifício do hotel, fui surpreendido com o cheiro logo à entrada. O odor era-me familiar e transportava-me para os grandes espaços semelhantes a balneários. Subi as escadas e eis que tenho um encontro imediato com uma grande quantidade de sapatos.
Que check-in estranho – pensei
Tirei os meus e …
- És muçulmano? - Perguntaram
- Não, sou católico – Respondi
Numa fracção de segundos entendi que aquele piso não era o do hotel.
Continuei, calçado, a subir as escadas.
Estou bem. Estou no Abbassi Palace hotel onde se sente a hospitalidade deste povo.
O serviço e o conforto transmitido por este tipo de alojamento é único. Em que telhado de hotel podemos ter um churrasco para todos os hóspedes com os membros da família e ouvir passagens do Alcorão nos altifalantes sem pagar mais que os 5JD por noite incluindo P.A?
Depois, pede-se um café e aparece uma bandeja recheada de frutos secos, bolachas, rebuçados, água e, claro, o café.
Tirando a parte antiga da cidade (downtown) densamente povoada de mercados, hotéis e vendedores, pouco mais à para ver na capital da Jordânia.
Amanhã viajo novamente. A king Hussein bridge é o ponto de partida para a Palestina.
Vou atravessar o rio jordão e depois, lado a lado, sigo até ao mar da galileia.

















21 junho 2009

Shama_Lebanon - 6meses





“Sinto-me nascido a cada momento, para a eterna novidade do Mundo”


Aproximadamente 20.000.000 de moscas, 100.000 escorpiões, 4.000.000 Libaneses e 141 militares portugueses.

Líbano, apesar da volatilidade deste país, não deixa de ser Terra Santa inundada de energia, actividade e história. Para uns, significa perigo, para outros, liberdade.
Tirando os – lindos – cenários que avisto todos os dias às 05h00 da manhã com o raiar do sol, tudo o que vi até agora foi separado por um vidro.
Como em todos os países, este também é feito de pessoas e em qualquer parte do planeta, o ser humano é bom, generoso e prefere o bem.
As sucessivas aprendizagens de arábe e os contactos – possíveis e limitados - com a população local, comprovam o axioma.
Não obstante a rotina vivida num “condomínio fechado” instalado sob uma plataforma instável cujo movimento circundante nos faz sentir vivos, a minha mente criativa continua a viajar.
É impressionante como a vida muda num abrir e fechar de páginas. Tudo pode passar de um simples relato ou mesmo uma pequena referência escrita algures num post-it. É assim que começo a viajar. Muito antes de começar a sonhar...
Depois da leitura de “Alma de Viajante” e dos sucessivos encontros e cruzamentos com as histórias dos mesmos locais distantes, eis que, surge o desejo de conhecer as estepes da Mongólia, o lago Baikal, a muralha da China, Angkor no Camboja. Enfim...
Os dias são mesmo demasiado curtos para todos os sonhos que quero viver, todos os livros que quero ler e todas as viagens que quero fazer para conhecer uma parte do mundo onde habito. Urge ver como é o resto do mundo para melhor compreender este em que vivo.

28 maio 2009

Via Algarviana


"Existem três tipo de pessoas no mundo: as que fazem as coisas acontecerem, as que vêm as coisas acontecerem e as que perguntam o que aconteceu."

Enquanto fazia e refazia as mochilas para a missão de 6 meses que se avizinha, por vezes perdia a concentração e a minha atenção ia directamente para os alforges cujo enchimento decorria a conta gotas. A Via Algarviana esperava por mim.
Esta travessia é uma vacina para evitar as saudades daquilo que mais gosto de fazer. Andar de bicicleta, porque quando parar de pedalar, caio.
Como vou estar alguns meses longe de casa, só não trouxe a “secção de congelados”, de resto, desde a fava frita, à passa de uva passando pelas bolachas e frutos secos, tudo contribuiu para cumprir a segunda regra da minha casa. Antes fazer mal que se estrague.
Já em Alcoutim, tive a pousada, a piscina e o quarto só para mim
À semelhança do Caminho de Santiago, também nesta rota as indicações são tantas que é impossível não as ver, mas com GPS carregado, é andar descansado. Lá, a riqueza do caminho reside nas pessoas, aqui, é nas paisagens. Mesmo que as descreva mil vezes, jamais lhes farei justiça.
Com certeza posso dizer – porque o sinto nas pernas e no corpo – que a dificuldade física desta rota é um factor a ter muito em conta.

Via Algarviana - dias seguintes



O itinerário de hoje tem outra dinâmica. As estradas dão lugar a túneis de vegetação, single- tracks e... bike às costas. Chegar a Barranco Velho é dantesco.
Calcorreando as ladeiras em direcção a S.B. Messines, só não lanço “borda fora” o livro África Acima do Gonçalo Cadilhe porque me faz falta para os serões. O meu périplo bem se podia chamar montanha acima.
Por vezes ainda questiono as gramas a mais nos alforges, mas quando faço do meu almoço uma taça de chocapic com leite, a resposta está dada. Se uma refeição assim será loucura ou low-cost, ainda estou para perceber? Quem sabe as vozes que oiço pelo caminho me consigam responder.
VOZES?!!! Sim, há quem diga que sou maluco em fazer estas aventuras em autonomia, no entanto, eu oiço vozes que dizem que não. J
Ontem o pequeno-almoço reforçado na escola primária de Casas Baixas e hoje na casa do povo de S.B.Messines juntamente com a amabilidade e hospitalidade das gentes locais, curam e revitalizam corpo e mente; é tudo natural, sem corantes nem conservantes.
Os gráficos de altimetria podem indicar o dia mais difícil de pedalada, não obstante, existem inúmeras variáveis que acabam por anular momentos difíceis e os piores cenários. Foi o caso de hoje.
A serra de Monchique parece uma montanha russa. Para cada lado que olhasse, via mais do mesmo. Até fiquei enjoado com tanto acumulado.
O caminho para o alto da Foia passa –quase – em Silves. Foram mais de 50kms sem qualquer tipo de infra-estrutura permitindo que a comida chegasse ao fim e eu ficasse mais leve.
No dia em que uma travessia não tiver chuva, serei um homem feliz. Por isso, vou continuar...a pedalar...


23 fevereiro 2009

Rota da Neve Inatel – Manteigas





6 a 8 Fev e 13 a 15Fev09

"Não deixes mais que pegadas, não leves mais que fotografias"

Embora fiel ao princípio que norteia qualquer amante da natureza ( leave no trace), ao efectuar os reconhecimentos para esta actividade, foi fácil deixar pegadas e rastos; difícil, porém, foi caminhar sem me afundar em neve quase até à cintura durante aproximadamente 10 kms.
Este prenúncio já se adivinhava quando, na A23 todo o sistema montanhoso à nossa frente se encontrava coberto de um manto branco. Manteigas estava do outro lado, como estaria o cenário?
Há muito tempo que não caía um nevão tão intenso quanto este. A Rota da Neve deste ano do Inatel, tinha razões mais que suficientes para fazer jus ao nome e proporcionar a todos os participantes uma experiência no mínimo “crocante” (sentir o gelo a derreter sobre as rodas).
Com diversos tracks que nos permitiam múltiplas opções e quilometragens para os dois dias de Rota, restava averiguar in loco, o estado do terreno.
Depois de um pequeno-almoço farto e abastado, carregamos a bicicleta em cima do carro e lá vamos nós...pró “atanscanço”. À segunda paragem forçada, só os 10€ para o tractor nos safaram. Mais à frente atolados, um outro grupo de aventureiros aguardava o auxílio dos bombeiros.
Reflectindo agora sobre o acontecimento, a nossa atitude foi a mesma deste governo, ou seja, utilizador = pagador. Os outros recorreram ao bolso do contribuinte movimentando meios humanos e viaturas a mais de uma dezena de quilómetros de distância. INCHA, que a CRISE é de TODOS.
Oito dias se passaram e muitos metros cúbicos de neve se evaporaram, inclusive nas zonas mais altas, apenas havia um resquício do que as fotos documentam. Nada ficou, nem mesmo as pegadas...
A vida é mesmo assim, tem muitos instantes de prazer; durante o dia são imensos os momentos em que respiramos, no entanto, do que mais sinto falta, é daqueles momentos que nos cortam a respiração.
Foi por isso que após o almoço do primeiro dia, ainda houve – tempo, loucura ?!! - para voltar a subir quase até à Torre. Praticamente em apneia estrada abaixo, as extremidades pagaram o preço de mais um instante de prazer.

Travessia Pinhal Novo – Monsaraz- Casa Branca












De 01JAN a 04JAN09 320 Kms

“[...] Eu prefiro na chuva caminhar, que em dias tristes em casa me esconder.
Prefiro ser feliz, embora louco, que em conformidade viver.”


Os dias cinzentos e chuvosos previstos para o início de 2009, a noitada da passagem de ano e a sangria feita com vodka “Raskaminov”, não impediram a vontade de partir.
Para viver em plenitude é preciso estar em constante movimento, só assim, cada dia é diferente do anterior.
Rumo Sul, a ideia era seguir o mesmo trilho feito pela ancestral Romaria que liga a cidade da Moita a Viana do Alentejo. Íamos abençoados com tanta água vinda de todos os lados.
Durante o deslocamento, quando passávamos nas aldeias, olhamos e pensamos: “aqui tudo é igual...”.; por existir um amanhã e não querer a mesma rotina diária, sigo a ideia do poeta, “seja para onde for, seja como for”, importa partir.
Sei perfeitamente que existem lugares que convidam a ficar. Monsaraz é, por mérito próprio, uma vila medieval muito actual que nos transmite tranquilidade.
Esta vila é um símbolo para mim, foi bom ter voltado uma outra vez. Aqui demoramo-nos porque nos sentimos bem.
Nas suas ruas ainda perdura o presépio com figuras gigantes e o ambiente natalício. Tiro fotos, compro o tão almejado quadro que me faça recordar o Alentejo e transporto todo este cenário e os momentos enquanto ali vivi, percebendo que nada muda o que vivi e vi até então.
Aqui, não preciso de GPS, cada bifurcação, cada pedaço de caminho é-me familiar pois foi esta zona que me iniciou na grande paixão pela procura de grandes horizontes e paisagens.

Transguadiana










“É preciso muito pouco para tornar a vida feliz”

Beja-Castro Marim de 09Set08 a 12Set08 - 225 kms








Esta foi mais uma travessia, sem talão, pensão ou qualquer outra complicação
Da longínqua e tranquila planície de Beja até à dureza da serra de Serpa , há muito que o suor escorria e reflectia o mesmo sol inclemente que nos castigava o corpo e abençoava as paredes cálidas e serenas da vila museu de Mértola.
Apesar de conhecer esta serra e de não ser a primeira vez que piso as suas terras, ela não deixa de constituir, ainda assim, uma agradável surpresa.
Seja no princípio ou a qualquer quilómetro mais adiante, banhar-me nas praias fluviais das Minas de S.Domingos e Alcoutim, acordar numa casa abandonada com vista sobre o rio, tornam-se momentos mágicos que faz parte da realidade da minha vida sem ter necessidade de fantasiar, ou dar azo à imaginação.
Para mim, cada dia que vivo é uma ocasião especial. Sobreviver... não é opção.

GR–22 – Grande Rota das Aldeias Históricas




30Ago08 a 07Set08 - 560 kms

"Não é o que possuímos, mas o que gozamos, que constitui a nossa abundância"

E ao 7 dia a rota terminou...
Volvidos 7 anos desde a minha participação na 1ª edição do GR-22 promovida pelo INATEL, chegou novamente o momento de enfrentar este desafio em autonomia na companhia de amigos. Com os alojamentos marcados de antecedência e com as etapas redefinidas, restava-nos apreciar aquilo que a melhor rota marcada em Portugal tem para oferecer.
A etapa do primeiro dia terminou cedo permitindo-nos manter um diálogo muito produtivo com a Sra. Viscondessa de Sortelha que nos convidou a visitar o espólio da família, servindo de cicerone durante uma boa parte da tarde.
Em plena época de férias, todos os restaurantes locais estavam fechados contribuindo desta forma para jantar umas sandes e a papa cerelac destinada à refeição seguinte.
Acautelada esta situação, os repastos bem condimentados com um jarro de tinto, tornaram-se uma realidade.
No 5º e 6º dia, a altimetria prometia. Eram os dias mais duros de toda a travessia. O desconforto causado pelo peso das mochilas de dois elementos do grupo, juntamente com a saída – abrupta - do Piódão e o tempo chuvoso com rajadas de vento, foram pedra basilar para substituir os trilhos junto das antenas eólicas pela estrada de alcatrão.
O parque de estacionamento de Monsanto onde estivera o carro toda a semana ficou para trás. Objectivo: comer um gelado depois de ultrapassada a porta da vila.
UFA, custou...(1 €)